quarta-feira, 12 de setembro de 2012


Machão ao volante, perigo constante



Pesquisa canadense mostra que homens com tendências machistas cometem mais imprudências na condução de veículos

Da Redação / Imagem: Thinkstock
redacao@arcauniversal.com

Julie Langlois, uma estudante de mestrado em psicologia da Universidade de Montreal (UM), no Quebeque, Canadá, realizou um trabalho para detectar se há alguma relação entre a masculinidade exacerbada e os riscos ao conduzir veículos. Em um simulador de direção montado no campus, os voluntários tiveram seu desempenho ao volante medido, levando-se em conta as atitudes perigosas, como derrapagens, arrancadas exageradas e ultrapassagens à direita, e até mesmo colisões.
Era dada ao voluntário da vez uma tarefa no simulador. Nada era falado sobre as contravenções, mas todos eram informados de que outros motoristas tinham realizado a tarefa em 7 minutos. Dependia de cada um como percorrer o circuito simulado.
Segundo os resultados, a hipermasculinidade de alguns condutores contribui significativamente para tomadas de decisão na estrada que requerem riscos, muitas vezes, desnecessários,que colocariam a segurança dos motoristas e de terceiros em perigo num percurso real. “Sabíamos, segundo estudos anteriores, que homens com personalidade machista mostravam atitudes mais agressivas e intransigentes na direção. Quisemos ir mais longe nessa pesquisa”, diz a estudante.
O orientador de Julie na pesquisa, o professor Jacques Bergeron, gostou muito quando o tema lhe foi apresentado, pois ele mesmo havia acabado recentemente um estudo de 1 ano sobre a paixão pela direção. “Essa paixão, em alguns homens, chega ao ponto da obsessão. É bem mais do que somente ‘mimar’ seu carro na garagem numa manhã de sábado. Eles veem seus automóveis como uma extensão de seus próprios corpos, e muitos tornam-se extremamente agressivos na estrada”, relata o psicólogo.
O carro assume o papel de uma armadura, de algo que dá mais poder ao condutor, para alguns homens, que dão vazão à agressividade, sentindo-se mais “machos”.
Os voluntários não eram informados de que a pesquisa era sobre o machismo. Deixavam-se levar pelo desafio de conseguir o intento em menos tempo do que os fictícios 7 minutos informados. A maioria dos que conseguiram realizar a tarefa em menos de 5 minutos realizou uma série de procedimentos perigosos, como ultrapassar pela direita, sair da pista em alta velocidade, usar a contramão de forma imprudente e até mesmo esbarrões.
Os que não caíram na armadilha do desafio machista esperavam o momento certo para ultrapassagens e acelerações, por exemplo. Realizaram a tarefa em cerca de 12 minutos, o que era aparentemente decepcionante, mas o fizeram com uma margem de perigo bem menor que a dos “gladiadores da estrada”.
A agressividade parece profundamente enraizada no estereótipo masculino. “A direção agressiva e arriscada permite ao motorista machista expressar sua masculinidade”, diz Julie no relatório. Uma necessidade de autoafirmação e de estabelecer sua imagem a terceiros – ou a tolos e tolas que se impressionam com isso.
Questão de segurança pública
Diz um velho ditado recorrente em parachoques de caminhão no Brasil: “É melhor chegar mais tarde em casa do que mais cedo ao cemitério”. A tentativa popular de desencorajar os “apressadinhos” que arriscam suas vidas e a de terceiros nas pistas faz sentido, segundo Bergeron, que analisa o comportamento do homem na direção há 25 anos na província francesa canadense, mas cujas conclusões dizem respeito a muitos lugares no mundo. “Quando dirigimos, situações imprevistas acontecem: alguém o fecha ou buzina repentinamente, ou mesmo um piloto inexperiente não consegue ver algo em seu ponto cego.”
Seria o caso de analisar a agressividade e negar a habilitação a esse tipo de motorista? Segundo o professor quebequense, não: “O Estado pode intervir, mas não necessariamente com a proibição da licença”, diz ele, levando em conta o direito de todo cidadão.
Animada com a repercussão de sua pesquisa, pela qual recebeu importantes méritos na UM, Julie já inscreveu seu próximo projeto para mestrado: a relação entre os usuários de maconha e os riscos que oferecem ao volante.

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